Cálculo Escalonar de Perigo de Incêndio (CEPI)

Este método foi criado pela Dra. Bernardete Minervino com o objetivo de analisar o risco de incêndio em edificações de valor histórico no Brasil. Trata-se do produto final de uma pesquisa desenvolvida entre 2019 e 2024 como parte do doutoramento em Engenharia de Segurança ao Incêndio da Universidade de Coimbra/Portugal.

O Cálculo Escalonar de Perigo de Incêndio – CEPI visa atribuir cinco coeficientes de perigo e proteção para uma edificação de valor histórico/cultural, que poderão ser usados como referência para analisar o perigo a que a edificação está exposta e as intervenções necessárias para subsidiar as ações de prevenção contra incêndio, o controle da deflagração do eventual incêndio, a fuga de pessoas e a preservação do conteúdo e estrutura da edificação.

As legislações contra incêndio só começaram a ser implementadas efetivamente no Brasil a partir da década de 1970 e vêm sendo atualizadas e incrementadas periodicamente. Há abordagens específicas previstas para edificações de valor histórico/cultural no que se refere às exigências de sistemas de proteção contra incêndio e na aprovação de medidas compensatórias que preservem as características destas edificações. Diante disso, o alcance do método CEPI foi estipulado como sendo as edificações de valor histórico/cultural construídas antes de 1970 e/ou que sejam tombadas/classificadas pelo Instituto do Patrimônio  Histórico Artístico e Cultural – IPHAN, contando com a devida proteção contra intervenções estéticas e/ou estruturais.

O método CEPI e as avaliações resultantes podem ser de interesse das mais diversas personagens envolvidas com a edificação: autoridades governamentais de preservação do patrimônio cultural ou de segurança contra incêndio, acadêmicos, investigadores, historiadores, proprietários da edificação ou do conteúdo exposto/armazenado, pessoas que utilizam a edificação diária ou esporadicamente, empresas de seguro, investidores e a sociedade em geral.

A análise de risco de incêndio pode ser utilizada para avaliar estratégias de proteção contra incêndio e aprimoramento da segurança para as partes envolvidas. Neste contexto, a classificação dos valores dos parâmetros e a aplicação do método CEPI devem ser feitas com julgamentos de valor técnico, feitos por profissionais da área de engenharia de segurança ao incêndio e de segurança contra incêndio (incluindo engenheiros de incêndio, projetistas especializados em segurança contra incêndio e bombeiros), enquanto as decisões de aprimoramento da segurança devem ser feitas em conjunto com julgamentos de valor executivo e de valor gerencial.

A explicação quanto ao método e sua aplicação são baseadas na tese de doutoramento intitulada “Análise de Risco de Incêndio em Edificações de Valor Histórico no Brasil”, defendida e aprovada em 2024 no Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra/Portugal. (Minervino, 2024)

Este site oferece uma tabela com as informações organizadas de forma a facilitar a aplicação do método CEPI. Acesse Planilha de Cálculo do Método CEPI.

 

Dos conceitos norteadores do método CEPI

O método CEPI toma por princípio que as características da edificação e do seu conteúdo influenciam diretamente na dinâmica de ignição e desenvolvimento de um incêndio.

Com base no fluxo de desenvolvimento do incêndio e nos requisitos para sua interrupção, foi elaborada uma estrutura de análise de risco, considerando os tipos de perigo e os sistemas de proteção existentes na edificação. São listados a seguir, os conceitos que norteiam a análise do método CEPI:

  • Perigo inicial ou de ignição
  • Desenvolvimento e/ou deflagração
  • Perigo para as pessoas
  • Perigo para o conteúdo
  • Nível de proteção

Os atributos apreciados pelo método CEPI foram selecionados considerando a sua relevância para o início, o desenvolvimento, a extinção e/ou prevenção de incêndios, a evacuação das pessoas e a proteção da edificação e de seu conteúdo. Houve, ainda, uma análise da disponibilidade e fiabilidade das informações levantadas, bem como da necessidade de manutenção dos elementos analisados e suas características, para garantir o seu funcionamento em caso de emergência.

Os atributos e parâmetros considerados no método CEPI não devem, necessariamente, depender das exigências da legislação local, uma vez que estas podem variar de um estado federativo para o outro e costumam ser bastante permissivas com edificações construídas antes de 1970. Por este motivo, o método CEPI apresenta suas próprias tabelas de valores atribuídos a cada parâmetro, como uma forma de selecionar e padronizar os índices válidos para o cálculo específico do grau de perigo.

  • Atributos referentes ao diagnóstico inicial da edificação: o diagnóstico é o processo de levantamento de informações sobre a edificação, fornecendo um panorama das condições gerais de construção, utilização e estado de manutenção da mesma.
  • Atributos referentes ao perigo inicial ou de ignição: o perigo inicial é referente à possibilidade de ocorrer uma ignição em algum local da edificação onde haja condições de surgir uma queima autossustentada, com material combustível em quantidade e/ou disposição suficientes para alimentar esta queima e possibilitar a deflagração do incêndio.
  • Atributos referentes ao desenvolvimento e/ou deflagração: o perigo de deflagração é referente à possibilidade de o incêndio se espalhar além da zona de origem da ignição (se espalhando pelo compartimento de origem), além do compartimento de origem (se espalhando para outros compartimentos da edificação) ou além da própria edificação (se espalhando para edificações adjacentes). A deflagração de um incêndio pode, ainda, comprometer a própria estrutura da edificação.
  • Atributos referentes ao perigo para as pessoas: o perigo para as pessoas é referente à possibilidade de evacuar todos os ocupantes da edificação de forma rápida e segura, antes que as consequências do incêndio interfiram nas condições de sobrevivência e bem-estar.
  • Atributos referentes ao perigo para o conteúdo: o perigo para o conteúdo é referente à importância dos bens contidos no interior da edificação e à possibilidade de dano ou perda dos mesmos, seja por causa do incêndio ou por causa das ações de combate.
  • Atributos referentes ao nível de proteção: o nível de proteção é referente aos sistemas de segurança contra incêndio presentes, treino de pessoal e planejamento para situações de emergência implementados na edificação.

Alguns destes atributos podem influenciar em uma ou mais áreas da dinâmica do incêndio, dependendo da sua existência, dimensionamento e funcionalidade. A dinâmica do incêndio é complexa e interligada com as características da edificação e as suas condições de proteção.

 

Quanto à aplicação do método CEPI

A aplicação do método CEPI ocorre em três etapas distintas e sequenciais:

  • Levantamento das informações para diagnóstico inicial da edificação;
  • Julgamento dos parâmetros existentes e atribuição dos respectivo s valores; e
  • Cálculo do grau de perigo de incêndio (ou grau de segurança contra incêndio) da edificação.

O resultado do método é dado individualmente a cada um dos cinco conceitos norteadores, possibilitando uma análise mais detalhada e um resultado mais específico para cada aspecto da edificação.

 

1. Levantamento das informações para diagnóstico inicial da edificação

Esta etapa deve ser realizada pelo próprio analista, a fim de garantir um maior detalhe das informações pesquisadas no que concerne à segurança contra incêndio. As informações levantadas podem ser compiladas utilizando os seguintes meios:

  • Projeto de arquitetura da edificação;
  • Projeto de segurança contra incêndio da edificação;
  • Planos de emergência da edificação;
  • Licença de funcionamento da edificação;
  • Visita técnica in loco, com registos fotográficos; e,
  • Depoimento do proprietário e/ou responsável pela administração/manutenção da edificação.

Algumas informações são retiradas diretamente dos projetos ou da documentação da edificação e não necessitam de julgamento, outras precisam passar pela avaliação do analista para valorar os critérios necessários para o cálculo do método CEPI.

 

2. Julgamento dos atributos e parâmetros e delimitação dos respectivo s valores

Esta etapa, assim como o levantamento das informações para diagnóstico inicial da edificação, deve ser realizada pelo próprio analista. A atribuição de valores é feita com base nos conhecimentos técnicos do analista e na sua experiência profissional, de acordo com os valores previstos para cada parâmetro nas respetivas tabelas do método CEPI.

O analista deve eleger o valor correspondente à situação encontrada in loco na edificação no momento do diagnóstico inicial. Cada parâmetro deve ter um único valor atribuído. Caso mais de um julgamento se enquadre para um mesmo parâmetro, deve-se eleger o valor correspondente à situação de maior risco.

  • Análise dos atributos referentes ao diagnóstico inicial: o diagnóstico inicial fornece um panorama geral da edificação e suas condições. As informações levantadas nesta etapa indicam a complexidade da análise a ser feita.
    • Identificação e endereço da edificação: o levantamento destas informações serve para controle do analista e identificação da zona onde se localiza a edificação. O endereço é importante para indagar outros aspectos: como é o acesso à edificação, se a mesma está localizada em zona rural ou urbana, se é atendida por rede de hidrantes urbanos, qual é a unidade do corpo de bombeiros mais próxima etc.
    • Dimensões arquitetônicas da edificação: as dimensões da edificação servem para averiguar tanto a sua própria complexidade quanto a do incêndio que pode ocorrer nela. É preciso medir e/ou calcular:
      • área total da edificação, de cada pavimento e dos compartimentos a serem analisados (projeto de arquitetura);
      • o número de pavimentos acima e abaixo do nível de descarga e o pé-direito dos pavimentos (projeto de arquitetura).
      • Características de compartimentação (projeto de arquitetura). Para um compartimento não isolado ou sem compartimentação efetiva, deve-se acrescentar as áreas adjacentes a este, até que uma compartimentação possa ser identificada.
    • Determinação das medidas de proteção sugeridas pelo método: as medidas de proteção contra incêndio para as edificações analisadas são sugeridas conforme previsto na Tabela 3: Medidas de SCI sugeridas para edificações de valor histórico/cultural.

Obs. 1: A altura considerada para esta classificação é a altura medida entre a face superior do piso do pavimento mais alto com acesso de pessoas (exceto lajes e compartimentos exclusivamente destinados a área técnica) até a face superior do piso do pavimento de descarga da edificação. Caso a edificação possua pavimentos de subsolo, a altura deve ser medida da mesma forma, desde a face superior do piso do último subsolo até a face superior do piso do pavimento de descarga.

Obs. 2: A área considerada para esta classificação é a área total construída da edificação, somando todos os pavimentos existentes.

  • Análise dos atributos referentes ao perigo inicial: os atributos referentes ao perigo inicial vão fornecer uma visão focada em como e onde o incêndio pode se iniciar. As informações levantadas nesta etapa indicam os pontos mais vulneráveis para ignição.
    • Atividade principal e atividades secundárias exercidas na edificação: a atividade exercida na edificação serve para classificar o perigo inicial a ser considerado, além de ser um dos parâmetros de base para determinar os sistemas obrigatórios de proteção contra incêndio. Caso haja mais de uma atividade sendo exercida na edificação, deve ser feita uma listagem por compartimentos e deve-se utilizar, para fins de análise de risco, a utilização predominante ou a que ocupar a maior área da edificação. A identificação da atividade deve ser realizada conforme descrito na Tabela 1: Classificação de utilização e risco das edificações. As classificações devem ser feitas por similaridade, caso não haja uma correspondência direta. O fator de perigo inicial (Fperigo) é determinado conforme a Tabela 2: Perigo inicial devido à utilização da edificação.
    • Identificação do local de risco (LR): após a classificação do risco de todos os compartimentos, é possível eleger o local de maior perigo de ignição ou maior potencial para início do incêndio. A identificação do local de risco é importante, uma vez que, se não puder ser garantido o isolamento deste local do restante da edificação, o risco total da edificação deverá ser o mesmo do local de risco.
    • Tipo e condições das instalações elétricas da edificação: as instalações elétricas são responsáveis por grande parte das ignições de incêndio, seja pela falta de manutenção ou pela sobrecarga que os novos aparelhos impõem aos sistemas de distribuição de energia. No caso de edificações construídas antes da década de 1970, é comum que o sistema de distribuição de energia não tenha sido dimensionado para a potência requerida pelo contexto tecnológico atual, o que aumenta ainda mais o risco de ignição por curto-circuito. Por este motivo, este é um parâmetro que deve ser analisado com rigor pelo analista, conforme descrito na Tabela 4: Parâmetros de instalações elétricas. O parâmetro deve ser analisado com relação a toda a edificação e não apenas ao local de risco.
    • Uso de gás liquefeito de petróleo (GPL): considerando que o GLP é um gás amplamente utilizado, é comum encontrar tanto o uso em botijões quando por sistema canalizado. Por se tratar de um gás mais pesado do que o ar, quando vazado, o seu comportamento natural é se acumular em locais mais baixos, causando risco de combustão e/ou explosão. A classificação quanto ao seu uso pode ser feita conforme descrito na Tabela 5: Parâmetros de GLP.
  • Análise dos atributos referentes ao desenvolvimento e/ou deflagração: os atributos referentes ao perigo de desenvolvimento e/ou deflagração vão fornecer uma visão focada em como o incêndio pode crescer e se espalhar para outras áreas da edificação. As informações levantadas nesta etapa indicam as características que podem facilitar ou dificultar este crescimento, sendo fundamentais para garantir o tempo necessário para evacuação das pessoas e o combate ao incêndio.
    • Materiais estruturais da edificação: os diferentes tipos de materiais da estrutura, paredes internas e externas, lajes, pisos, coberturas e fachadas devem ser analisados conforme o seu tempo requerido de resistência ao fogo (TRRF), uma vez que esta é uma característica importante para determinar a compartimentação do incêndio e dificultar a sua propagação. A classificação dos materiais quanto ao TRRF pode ser feita conforme descrito na Tabela 6: Parâmetros de materiais estruturais.
    • Materiais de acabamento da edificação: os diferentes tipos de materiais de acabamento das portas, paredes internas e externas, tetos, pisos, coberturas e fachadas devem ser analisados conforme o seu comportamento de queima, uma vez que eles podem servir de combustível para o fogo e/ou facilitar o espalhamento das chamas, além de liberar substâncias tóxicas como produto da sua combustão. A classificação dos materiais de acabamento pode ser feita conforme descrito na Tabela 7: Parâmetros de materiais de acabamento.
    • Compartimentação horizontal: a compartimentação horizontal atua no confinamento do incêndio no compartimento inicial, evitando ou retardando a deflagração do mesmo para os demais compartimentos da edificação. As paredes, dependendo do TRRF, podem conter o incêndio até que o combate seja realizado. As portas e janelas do compartimento podem comprometer a compartimentação dependendo do seu material de composição ou se estão abertas ou fechadas durante o incêndio. Estes parâmetros podem ser utilizados para determinar a área do local de risco e de seus locais adjacentes.
    • Compartimentação vertical: a compartimentação vertical atua no confinamento do incêndio no pavimento do compartimento inicial, evitando a deflagração do mesmo para os demais pavimentos da edificação. As lajes precisam garantir o confinamento do incêndio, mas há, ainda, outras características a serem observadas, como a quantidade de pavimentos acima do compartimento inicial, se há aberturas como átrios ou escadas não enclausuradas, bem como a separação entre as janelas do pavimento inicial e as janelas dos pavimentos superiores. A tendência do fogo e dos gases quentes é subir, devido à diferença de densidade com o ar atmosférico, por isso garantir a compartimentação vertical é primordial para o confinamento do incêndio. A classificação da compartimentação vertical pode ser feita conforme descrito na Tabela 8: Parâmetros de compartimentação vertical.
    • Isolamento entre a edificação e outras adjacentes: uma vez que o incêndio se espalhe pela edificação é possível que ele se deflagre também para as edificações adjacentes, por condução ou por radiação. A distância de isolamento entre as edificações interfere nesta deflagração, mantendo o incêndio na edificação de origem. A classificação do isolamento é feita conforme descrito na Tabela 9: Parâmetros de isolamento entre edificações adjacentes, considerando a distância entre as edificações envolvidas na avaliação.
  • Análise dos atributos referentes ao perigo para as pessoas: os parâmetros referentes ao perigo para as pessoas vão fornecer uma visão focada no abandono da edificação em caso de emergência. As informações levantadas nesta etapa indicam as condições das rotas de fuga e preveem como será a evacuação, analisando as características que podem interferir no movimento das pessoas para fora da edificação.
    • Distância máxima a percorrer na edificação: a evacuação de pessoas é feita percorrendo as rotas de fuga que levam os ocupantes da edificação até a saída ou até uma área considerada segura (áreas de refúgio ou escadas protegidas). É preciso determinar qual é o compartimento mais distante da saída, independentemente de ser este o compartimento de maior risco ou não, e medir a distância que uma pessoa que esteja neste compartimento precisa percorrer até a saída mais próxima. Isso se dá devido ao fato de que, ocorrendo uma emergência, deve ser possível evacuar toda a edificação e não apenas o local de risco. A classificação da distância a percorrer é feita conforme descrito na Tabela 10: Parâmetros de distância máxima a percorrer.
    • Dimensionamento e características das saídas de emergência: ao examinar a edificação é preciso identificar o compartimento de maior risco de incêndio e o compartimento que possui a maior distância a percorrer até a saída de emergência. Nos dois casos é preciso estabelecer a rota de fuga dos compartimentos (corredores, escadas e portas, formando um caminho contínuo até a saída mais próxima) e medir as larguras em todo o percurso. Também é preciso identificar os tipos de escada, caso existam e se estas são incombustíveis e/ou protegidas. O objetivo é verificar se todos os ocupantes da edificação conseguirão sair em tempo hábil, independentemente de onde ocorra o incêndio. O dimensionamento das saídas de emergência é feito utilizando os parâmetros estabelecidos na Tabela 12: Dimensionamento de saídas de emergência. As características estruturais dos componentes da rota de fuga são julgados conforme os parâmetros estabelecidos na Tabela 11: Parâmetros de rota de fuga.
      • Tamanho máximo da população: considerando que as edificações alvo do método CEPI já estão construídas, a população máxima permitida em um local deve ser determinada conforme o dimensionamento das saídas de emergência existentes, a fim de garantir um abandono seguro da edificação caso seja necessário. A fórmula utilizada é prevista nas normas técnicas brasileiras, com base na atividade desenvolvida na edificação e fornece o número mínimo de unidades de passagem necessários para uma evacuação segura. A Tabela 12 traz os parâmetros para calcular a população aceitável de acordo com a área do pavimento e o tipo de atividade desenvolvida na edificação. No caso de edificações existentes, deve-se fazer o cálculo na ordem inversa, primeiro medindo as larguras das saídas de emergência e depois calculando a população máxima permitida para estas mesmas saídas. É importante enfatizar que os parâmetros da Tabela 12 são utilizados para calcular a população e dimensionar as saídas de emergência por pavimento, sendo necessário repetir o cálculo para cada um dos pavimentos da edificação.
      • Largura das saídas de emergência: a Tabela 12 fornece os parâmetros para o cálculo das larguras de corredores, escadas e portas que compõem a rota de fuga. O cálculo é feito por meio da seguinte equação:

$$N=\frac{P}{C}$$

Onde:  N – é o número de unidades de passagem, arredondado para número inteiro superior

   P – é a população, conforme coeficiente da Tabela E-12

   C – é a capacidade da unidade de passagem, conforme Tabela E-12

Para finalizar o cálculo e saber a largura mínima exigida para as saídas de emergência da edificação, deve-se converter o resultado da equação de Unidade de Passagem (UP) para metros, multiplicando o número inteiro acima do resultado por 0,55 metros. Este cálculo de dimensionamento de saídas de emergência é detalhado na Instrução Técnica 08/2121 (CBMMG, 2021).

      • Parâmetros de população: uma vez que a população máxima permitida para cada pavimento seja calculada, este resultado deve ser comparado com a população real existente nestes pavimentos. É preciso analisar três fatores separadamente: população máxima do local de risco, população máxima do maior pavimento, população máxima na edificação (que é o somatório de todos os pavimentos existentes). Depois, os três resultados devem ser analisados conforme previsto na Tabela 13: Parâmetros de população.
      • Parâmetros de largura da rota de fuga: os resultados dos cálculos de dimensionamento também devem ser utilizados para julgar os parâmetros de largura de rota de fuga previstos na Tabela 14: Parâmetros de largura da rota de fuga.
    • Iluminação de emergência: a rota de fuga deve estar iluminada para garantir que as pessoas possam utilizá-la de maneira eficiente em uma situação de emergência. A classificação da iluminação da rota de fuga é feita conforme descrito na Tabela 15: Parâmetros de iluminação de emergência.
    • Sinalização de emergência: a rota de fuga deve estar sinalizada para ajudar as pessoas a tomarem o caminho mais rápido até a saída de emergência e para evitar que elas se percam durante a evacuação. A classificação da sinalização da rota de fuga é feita conforme descrito na Tabela 16: Parâmetros de sinalização de emergência.
    • Sistema de alarme de incêndio: um sistema de alarme serve para avisar os ocupantes de uma edificação de que uma situação de emergência está acontecendo e que eles devem iniciar a evacuação. A classificação dos avisadores de emergência é feita junto com o sistema de alarme, conforme descrito na Tabela 17: Parâmetros de alarme de incêndio.
    • Brigada de incêndio voluntária: trata-se de uma brigada formada pela população fixa da edificação, com o objetivo de auxiliar na evacuação de pessoas em caso de emergência, garantindo que todos cumpram o plano de evacuação e orientando a população flutuante durante o abandono da edificação. São funcionários que já trabalham na edificação e possuem um treino básico de uso de extintores e funções definidas no plano de emergência. Não é função desta brigada o combate ao incêndio generalizado, mas sim providenciar a evacuação de pessoas. A classificação quanto à brigada voluntária é feita conforme descrito na Tabela 18: Parâmetros de brigada de incêndio voluntária.
    • Plano de evacuação: trata-se de um planejamento estruturado de como e em quais circunstâncias deve acontecer o abandono da edificação. Este plano é parte integrante do plano de emergência e deve prever os procedimentos de evacuação, identificar as dificuldades que possam ocorrer e ser de amplo conhecimento da população fixa da edificação. A classificação quanto ao plano de evacuação é feita conforme descrito na Tabela 20: Parâmetros do plano de emergência: evacuação de pessoas.
    • Exercícios simulados de evacuação: os treinos de evacuação servem para familiarizar os ocupantes da edificação com os procedimentos de abandono, facilitando as ações quando ocorrer uma emergência real. A classificação quanto aos exercícios de evacuação é feita conforme descrito na Tabela 20: Parâmetros do plano de emergência: evacuação de pessoas.
  • Análise dos atributos referentes ao perigo para o conteúdo: os parâmetros referentes ao perigo para o conteúdo vão fornecer uma visão focada na importância no patrimônio  histórico da edificação. É preciso analisar a melhor forma de proteger tanto os itens de valor armazenados quanto os itens estruturais ou decorativos fixos, que não podem ser removidos em caso de incêndio.
    • Plano de proteção do conteúdo: trata-se de um planejamento para proteger e/ou retirar o conteúdo da edificação em caso de incêndio. Este plano é parte integrante do plano de emergência e deve prever as ações para retirada e proteção das peças mais valiosas e/ou mais importantes do acervo, bem como determinar a pessoa responsável pela remoção e o local para onde os objetos removidos devem ser levados. A classificação quanto ao plano de proteção do conteúdo é feita conforme descrito na Tabela 21: Parâmetros do plano de emergência – proteção do conteúdo. Caso a edificação não possua objetos móveis que mereçam proteção especial, o respectivo parâmetro deve ser desconsiderado no cálculo de perigo para o conteúdo.
    • Local de armazenamento seguro: para garantir a integridade das peças retiradas da edificação é preciso determinar um local seguro para onde elas possam ser levadas e onde possam permanecer protegidas do incêndio. A classificação quanto ao local de armazenamento seguro é feita conforme descrito na Tabela 21: Parâmetros do plano de emergência – proteção do conteúdo. Caso a edificação não contenha objetos móveis que mereçam proteção especial, o respectivo parâmetro deve ser desconsiderado no cálculo de perigo para o conteúdo.
    • Proteção de locais específicos: há locais em que o próprio compartimento possui valor histórico/cultural e é preciso proteger este compartimento de forma que um eventual incêndio não o atinja. Para isto, é preciso que haja previsão no plano de emergência das ações que devem ser tomadas para efetivar esta proteção. A classificação quanto à proteção de locais específicos é feita conforme descrito na Tabela 21: Parâmetros do plano de emergência – proteção do conteúdo. Caso a edificação não possua locais de valor patrimonial especial que precisem ser isolados do incêndio, o respectivo parâmetro deve ser desconsiderado no cálculo de perigo para o conteúdo.
    • Exercícios simulados de proteção do conteúdo: os treinos para proteção do conteúdo e de locais específicos servem para familiarizar os ocupantes e brigadistas da edificação quanto aos procedimentos de retirada de peças pré-selecionadas, transporte e armazenamento provisório das mesmas, bem como as táticas de proteção de locais específicos, facilitando as ações quando ocorrer uma emergência real. A classificação quanto aos exercícios de proteção de conteúdo é feita conforme descrito na Tabela 21: Parâmetros do plano de emergência – proteção do conteúdo.
  • Análise dos atributos referentes ao nível de proteção: os parâmetros referentes ao nível de proteção vão fornecer uma visão focada nos sistemas de segurança contra incêndio. Estes sistemas de segurança podem impedir o avanço do incêndio e/ou facilitar as ações das equipes de bombeiros, minimizando os danos do incêndio ou prevenindo a sua ocorrência.
    • Sistema de extintores portáteis de incêndio: os extintores são muito úteis para combater princípios de incêndio, desde que sejam usados corretamente. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 22: Parâmetros de extintores de incêndio.
    • Sistema de alarme de incêndio: o sistema de alarme manual serve para que uma pessoa que perceba um incêndio possa, fácil e rapidamente, alertar toda a edificação sobre o que está ocorrendo. Já os avisadores sonoros e luminosos funcionam para avisar a todos os ocupantes sobre uma emergência ocorrendo na edificação. O aviso do sistema também inicia as ações de combate ao incêndio previstas para a edificação. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 17: Parâmetros de alarme de incêndio.
    • Sistema de detecção automática de incêndio: este sistema é capaz de detectar o incêndio ainda em sua fase inicial, mesmo sem a presença de pessoas no local. É mais seguro e eficiente, pois permite que as ações de combate e evacuação comecem mais rapidamente. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 23: Parâmetros do sistema de detecção automática de incêndio.
    • Sistema de hidrantes de parede: este sistema leva um tubo de água pressurizada a pontos específicos da edificação e permite mais agilidade nas ações de combate ao incêndio. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 24: Parâmetros do sistema de hidrantes de parede. Caso a edificação não precise ter o sistema, conforme é previsto na Tabela E-3: Medidas de SCI sugeridas para edificações de valor histórico/cultural, este atributo deve ser desconsiderado no cálculo do nível de proteção.
    • Sistema de sprinklers: este sistema age juntamente com a detecção automática para combater o princípio de incêndio. É mais seguro e eficiente, pois tem uma ação automática e pontual no foco inicial, mesmo sem a presença de pessoas no local. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 25: Parâmetros do sistema de sprinklers. Caso a edificação não precise ter o sistema, conforme é previsto na Tabela E-3: Medidas de SCI sugeridas para edificações de valor histórico/cultural, este atributo deve ser desconsiderado no cálculo do nível de proteção.
    • Brigada de incêndio profissional: esta é a brigada composta por profissionais treinados para iniciar o combate ao princípio de incêndio e colocar em prática o plano de emergência, além de atuar na prevenção fiscalizando a manutenção dos sistemas de proteção e treinando a população fixa da edificação para as ações em caso de emergência. Considerando que as atividades de segurança contra incêndio não podem ser executadas por uma pessoa sozinha, pois isso compromete não só as ações de combate quanto a segurança da própria pessoa envolvida, a quantidade mínima é de dois brigadistas para que o sistema seja considerado eficiente. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 26: Parâmetros da brigada de incêndio profissional. Caso a edificação não precise ter o sistema, conforme é previsto na Tabela E-3: Medidas de SCI sugeridas para edificações de valor histórico/cultural, este atributo deve ser desconsiderado no cálculo do nível de proteção.
    • Plano de emergência: este plano é um compêndio dos planos de evacuação, ações de prevenção contra incêndio e ações de combate ao princípio de incêndio. Pode ter diversas abordagens para todas as ações julgadas necessárias para proteger a edificação, seu patrimônio  e seus ocupantes. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 19: Parâmetros gerais do plano de emergência.
    • Hidrantes urbanos: os hidrantes urbanos servem para abastecer os tanques de água das viaturas do corpo de bombeiros, fornecendo uma reserva de água no combate ao incêndio. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 27: Parâmetros do sistema de hidrantes urbanos.
    • Corpo de bombeiros: é preciso verificar qual é o tempo resposta do corpo de bombeiros para atender a uma emergência na edificação. Este tempo deve ser fornecido pela unidade do corpo de bombeiros mais próxima da edificação. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 28: Parâmetros do corpo de bombeiros oficial.
    • Acessibilidade do corpo de bombeiros à edificação: a localização e a disposição da edificação podem interferir na acessibilidade das viaturas do corpo de bombeiros para alcançarem e se instalarem no melhor local para desenvolver as ações de combate a incêndio. É preciso verificar, ainda, se não há obstáculos como portões ou muros que impeçam a aproximação das viaturas do corpo de bombeiros. Os valores referentes a este sistema são atribuídos conforme descrito na Tabela 29: Parâmetros de acessibilidade para combate a incêndio.

 

3. Cálculo do grau de perigo de incêndio (ou grau de segurança contra incêndio) da edificação.

Os valores dos parâmetros previstos nas tabelas do método CEPI devem ser preenchidos em uma planilha de cálculo. Para cada parâmetro, deve ser atribuído o valor correspondente à situação encontrada in situ na edificação no momento do diagnóstico inicial.

O cálculo do perigo de incêndio é dividido em cinco partes: Perigo Inicial, Desenvolvimento e/ou Deflagração, Perigo para as Pessoas, Perigo para o Conteúdo e o Nível de Proteção. Para realizar o cálculo é preciso seguir três passos pré-definidos:

1º passo: julgar cada um dos parâmetros conforme as tabelas de consulta do método CEPI, atribuindo os valores correspondentes a cada situação.

2º passo: calcular a média aritmética dos parâmetros para definir o valor de cada um dos respectivo s atributos.

3º passo: calcular a média aritmética dos atributos para definir os respectivo s coeficientes de perigo ou nível de proteção.

Os cálculos foram planejados para ter uma aplicação simples e objetiva, fornecendo um valor final dentro do espectro da escala Likert utilizada. O objetivo é facilitar o entendimento dos resultados e a correspondência de interpretação.

 

  • Coeficiente de perigo inicial

O perigo inicial tem como base os riscos existentes na edificação em seu funcionamento normal e que estão constantemente presentes. Estas características podem causar a ignição do incêndio, seja por mau funcionamento, falta de manutenção ou pelo uso habitual da edificação.

A Figura 1 representa o esquema de levantamento de dados e julgamento dos parâmetros estabelecidos pelo método CEPI, bem como a relação entre cada fator determinado para calcular o coeficiente de Perigo Inicial.

Figura 1: Resumo esquemático da relação de parâmetros para o cálculo do coeficiente de Perigo Inicial do método CEPI

 

As fórmulas para calcular o Coeficiente de Perigo Inicial são aplicadas seguindo as relações mostradas na Figura 2 para chegar ao valor final do perigo inicial utilizando uma média aritmética simples. Deve-se considerar que estes perigos podem acontecer isoladamente ou em conjunto e a ocorrência de um deles não elimina a possibilidade da ocorrência de outro.

Figura 2: Resumo esquemático da relação entre as fórmulas para o cálculo do Coeficiente de Perigo Inicial do método CEPI

 

  • Coeficiente de desenvolvimento do incêndio

O desenvolvimento do incêndio é influenciado pelas características estruturais de construção. Estas características podem apressar ou retardar a passagem do calor e da fumaça entre os compartimentos e os pavimentos da edificação. A Figura 3 representa o esquema de levantamento de dados e julgamento dos parâmetros estabelecidos pelo método CEPI, bem como a relação entre cada fator determinado para calcular o Coeficiente de Desenvolvimento do Incêndio.

Figura 3: Resumo esquemático da relação de parâmetros para o cálculo do Coeficiente de Desenvolvimento do Incêndio do método CEPI

 

As fórmulas para calcular o Coeficiente de Desenvolvimento do Incêndio são aplicadas seguindo as relações mostradas na Figura 4 para chegar ao valor final utilizando uma média aritmética simples.

Deve-se considerar que tais características não são excludentes e que, juntas, podem aumentar a segurança da edificação.

Figura 4: Resumo esquemático da relação entre as fórmulas para o cálculo do Coeficiente de Desenvolvimento do Incêndio do método CEPI

 

  • Coeficiente de perigo para as pessoas

O perigo para as pessoas depende das condições de alarme e fuga da edificação. A Figura 5 representa o esquema de levantamento de dados e julgamento dos parâmetros estabelecidos pelo método CEPI, bem como a relação entre cada fator determinado para calcular o Coeficiente de Perigo para as Pessoas.

Figura 5: Resumo esquemático da relação de parâmetros para o cálculo do Coeficiente de Perigo para as Pessoas do método CEPI

 

Estas características podem influenciar na velocidade de escape da população, uma vez que é o conjunto de atributos que garantirá a saída segura em caso de emergência para todas as pessoas presentes na edificação.

As fórmulas para calcular o coeficiente de perigo para as pessoas são aplicadas seguindo as relações mostradas na Figura 6 para chegar ao valor final, utilizando uma média aritmética simples, considerando que cada uma destas características é importante para aumentar a eficiência da evacuação de pessoas e a combinação destas mesmas características depende da configuração da rota de fuga no projeto de arquitetura que cada edificação apresenta.

Figura 6: Resumo esquemático da relação entre as fórmulas para o cálculo do Coeficiente de Perigo para as Pessoas do método CEPI

 

  • Coeficiente de perigo para o conteúdo

O perigo para o conteúdo depende das estratégias de proteção para objetivos móveis ou locais que tenham maior relevância na edificação e que precisem ser retirados ou isolados em caso de incêndio.

A Figura 7 representa o esquema de levantamento de dados e julgamento dos parâmetros estabelecidos pelo método CEPI, bem como a relação entre cada fator determinado para calcular o Coeficiente de Perigo para o Conteúdo.

Figura 7: Resumo esquemático da relação de parâmetros para o cálculo do Coeficiente de Perigo para o Conteúdo do método CEPI

 

As fórmulas para calcular o coeficiente de perigo para o conteúdo são aplicadas seguindo as relações mostradas na Figura 8 para chegar ao valor final utilizando uma média aritmética simples, considerando que é o conjunto destes fatores sendo executados conforme um planejamento específico que irá garantir a preservação do bem ou local.

Figura 8: Resumo esquemático da relação entre as fórmulas para o cálculo do Coeficiente de Perigo para o Conteúdo do método CEPI

 

Para o caso de a edificação analisada não possuir objetos móveis que mereçam proteção especial ou não possua locais de valor patrimonial especial que precisem ser isolados do incêndio, o Fconteúdo pode ser desconsiderado no cálculo do coeficiente de perigo para o conteúdo.

 

  • Coeficiente de nível de proteção

O nível de proteção depende das medidas de proteção ativas e passivas presentes na edificação. Estas medidas interferem diretamente nas fases de desenvolvimento do incêndio, aumentando o grau de proteção da edificação e possibilitando o combate ao incêndio.  A Figura 9 representa o esquema de levantamento de dados e julgamento dos parâmetros estabelecidos pelo método CEPI, bem como a relação entre cada fator determinado para calcular o Nível de Proteção da edificação.

Figura 9: Resumo esquemático da relação de parâmetros para o cálculo do coeficiente de Nível de Proteção do método CEPI

As fórmulas para calcular o Coeficiente de Nível de Proteção são aplicadas seguindo as relações mostradas na Figura 10 para chegar ao valor final utilizando uma média aritmética simples, considerando que os sistemas funcionam em conjunto para garantir a segurança da edificação.

Figura 10: Resumo esquemático da relação entre as fórmulas para o cálculo do coeficiente de Nível de Proteção do método CEPI

 

  • Resultados do método CEPI

O método CEPI não tem o objetivo de entregar um valor único do perigo de incêndio, mas sim cinco valores de coeficientes que podem ser calculados e analisados separadamente para compor dados e oferecer subsídios para uma análise do perigo para cada aspecto do bem a se proteger. A Figura 11 traz uma representação da escala Likert do método CEPI e suas faixas de interpretação. São sete pontos da escala, com nível crescente de segurança, de forma que a maior pontuação reflete o menor grau de perigo (perigo baixo) e a menor pontuação reflete o maior grau de perigo (perigo inaceitável).

Figura 11: Representação da escala Likert do método CEPI e suas faixas de interpretação

 

A variação dos resultados dos coeficientes nas respetivas faixas de valores indica o quão próximo dos limites estabelecidos a edificação está. Os detalhes sobre quais são os problemas encontrados e as possíveis soluções podem ser obtidos ao se fazer uma análise dos valores de cada parâmetro. Além disso, também é estabelecida uma mudança de cores para cada pontuação com a intenção de tornar mais clara, para o analista, a evolução do grau de segurança na medida em que a pontuação fica maior. Na escala apresentada na Figura 11, os resultados acima de 6,00 pontos podem ser considerados seguros, pois refletem as condições de perigo baixo para incêndios.

    • Para o Coeficiente de Perigo Inicial, a escala representa um crescente perigo de ignição e início do incêndio na edificação. Os resultados devem ser utilizados para alterar e/ou acrescentar medidas de segurança que aumentem ao máximo a classificação da edificação, de forma a deixá-la com índice sempre acima de seis pontos.
    • Para o Coeficiente de Desenvolvimento do Incêndio, a escala representa as facilidades ou dificuldades que a estrutura da edificação está apresentando para que o incêndio se desenvolva e se espalhe para outros compartimentos, outros pavimentos ou até mesmo para outras edificações adjacentes.

Tanto para o Coeficiente de Perigo Inicial quanto para o Coeficiente de Desenvolvimento do Incêndio, resultados na faixa entre 1,00 até 3,99 indicam que a edificação não possui medidas para impedir o início o incêndio e, caso o incêndio ocorra, também não há características estruturais que possam impedir o seu desenvolvimento. Resultados na faixa entre 4,00 e 5,99 indicam que a edificação possui algumas medidas de segurança em sua estrutura, mas as mesmas estão mal dimensionadas ou não estão funcionais para oferecer proteção contra incêndio. Resultados acima de 6,00 indicam que a edificação possui uma estrutura bem dimensionada para prevenir o desenvolvimento do incêndio e que as instalações que podem causar um princípio de incêndio estão bem planejadas e passam por manutenção.  Quanto menor for o valor encontrado, maior é o perigo ao qual a edificação está exposta.

    • Para o Coeficiente de Perigo para as Pessoas, a escala representa as condições facilitadoras da evacuação da edificação, analisando os critérios que interferem diretamente na velocidade de movimentação das pessoas e no direcionamento das mesmas para o local correto de fuga em uma situação de emergência.
    • Para o Coeficiente de Perigo para o Conteúdo, a escala representa as condições de proteção para bens ou locais específicos que, por seu valor histórico/cultural, necessitem de atenção especial em caso de incêndio. O conceito inclui ainda as ações de planejamento e treino da estratégia desenvolvida para garantir a sua eficiência caso ocorra uma situação real.

Tanto para o Coeficiente de Perigo para as Pessoas e o Coeficiente de Perigo para o Conteúdo, resultados na faixa entre 1,00 até 3,99 indicam que a edificação não possui estruturas ou medidas de proteção que possam garantir a evacuação de pessoas ou a retirada do conteúdo da edificação. Resultados na faixa entre 4,00 e 5,99 indicam que a edificação possui estrutura para evacuação de pessoas, mas estas estão mal dimensionadas ou não estão funcionais para garantir a saída rápida de pessoas ou a movimentação do conteúdo de forma eficiente. Resultados acima de 6,00 indicam que a edificação possui uma estrutura bem dimensionada para garantir a evacuação das pessoas, bem como um bom nível de treino tanto para evacuação quanto para a retirada de conteúdo da edificação. Quanto menor for o valor encontrado, maior será o perigo a que as pessoas e o conteúdo estarão expostos em uma situação de incêndio.

    • Para o Coeficiente do Nível de Proteção, a escala representa a existência e eficiência das medidas de proteção contra incêndio, ainda que estas não sejam exigidas pelas normas locais. Considerando o valor patrimonial agregado à edificação, uma proteção mínima não é suficiente, pois o bem a ser perdido é insubstituível. Sendo assim, deve ser um objetivo dos responsáveis pela edificação fazer com que esta atinja os níveis mais altos da escala, refletindo uma maior segurança para as pessoas e para o patrimônio de valor histórico ou cultural existente.

Para o coeficiente de Nível de Proteção, resultados na faixa entre 1,00 até 3,99 indicam que a edificação não possui os sistemas básicos de proteção contra incêndio ou, caso possua alguns deles, os mesmos estão mal dimensionados ou não passam por manutenção, de forma que não podem ser considerados confiáveis para funcionamento em caso de incêndio. Resultados na faixa entre 4,00 e 5,99 indicam que a edificação possui alguns sistemas de proteção, que podem ou não estar bem dimensionados, mas que não passam por manutenção periódica ou não cobrem toda a edificação. Estes sistemas podem ou não oferecer alguma proteção, mas não podem ser considerados confiáveis em caso de incêndio. Resultados cima de 6,00 indicam que a edificação possui sistemas de proteção contra incêndio bem dimensionados e que podem ser considerados confiáveis para funcionamento em caso de incêndio.

 

Para cada um dos cinco conceitos norteadores do método CEPI são calculados valores finais separadamente. O objetivo da separação dos cálculos em termos distintos é facilitar a análise para cada ponto de vista ou foco específico. A separação, no entanto, não desobriga a análise de todos os termos como partes de um contexto geral da edificação.

A análise dos resultados encontrados deve orientar os gestores a tomar medidas que direcionem a edificação para um resultado igual ou maior que cinco pontos, para que esta apresente um grau de perigo considerado aceitável com relação à segurança contra incêndio.

Considerando as limitações de intervenção das edificações de valor histórico/cultural, cabe aos gestores (administradores, proprietários etc.) e fiscalizadores (corpos de bombeiros, IPHAN e demais autoridades legalmente estabelecidas) buscar a implementação de medidas de segurança na edificação visando atingir, no mínimo, o grau de perigo considerado aceitável ou baixo pelo método CEPI. Isto é, pontuação igual ou maior a cinco pontos para cada um dos cinco conceitos norteadores.

 

NOTA DA AUTORA:

O Cálculo Escalonar de Perigo de Incêndio – CEPI é baseado em uma análise de cinco conceitos norteadores, para proporcionar resultados mais rigorosos e objetivos.

É importante enfatizar que o tipo de tombamento/classificação, ou as outras formas de reconhecimento de valor histórico/cultural aplicados, não interferem diretamente no risco de incêndio atribuído a uma edificação, uma vez que estas medidas são apenas um processo administrativo que limita as intervenções estruturais e arquitetônicas no edifício. O risco de incêndio, por sua vez, tem relação com o perigo inicial, a utilização-tipo e as atividades desenvolvidas no local, as condições de manutenção e os sistemas de segurança contra incêndio presentes na edificação, independente de esta edificação ter ou não um tombamento/classificação.

Este método não é estático, mas poderá ser adaptado e atualizado na medida em que novas tecnologias e novas formas de avaliação surgirem, sempre visando a segurança contra incêndio das edificações e das pessoas que as utilizam.

Embora o método tenha foco inicial nas edificações de valor histórico, por terem sido estas as edificações de aplicação durante a pesquisa que originou o método, é intenção da autora que o CEPI seja testado e, futuramente, adaptado para edificações contemporâneas em construção e utilização no Brasil.

 

Referências:

CBMMG. Instrução Técnica nº 08/2021 – Saídas de Emergência em Edificações. Belo Horizonte/MG, 2021.

Minervino, Bernardete. Análise de Risco de Incêndio Aplicada a Edificações de Valor Histórico no Brasil. 2024. Tese (Doutorado) – Curso de Doutoramento em Engenharia de Segurança ao Incêndio: Departamento de Engenharia Civil – FCTUC – Universidade de Coimbra. Coimbra/PT. 2024.

 

Conteúdo desenvolvido pela autora: Bernardete de Lourdes Ferreira Minervino.

O uso deste conteúdo é autorizado apenas para fins acadêmicos, desde que citada a fonte:
Minervino, Bernardete. Disponível em
Disponibilizado no dia 02-fevereiro-2025.
Atualizado em fevereiro de 2025.